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Psicopedagogia em FOCO
Por Maria Carolina Lolli

Mitos e Verdades sobre a Alfabetização 

Alfabetizar é uma arte que exige responsabilidade!

Alfabetização é um dos temas mais polêmicos da Educação - no Brasil e no mundo. É por esta razão que discutiremos sobre alguns mitos sobre esse processo...


  • As crianças não devem acessar livros até que aprendam a ler! Esse é um grande mito!!! Não é porque os pequenos não dominam a leitura que eles não devam ter acesso a livros desde muito pequeninhos.


  • O alfabetizador não precisa de conhecimentos específicos! Na minha opinião essa é a mentira mais séria de todos! Todos nós que nos arriscamos a ensinar algo a alguém precisamos estar sempre aprendendo! Alfabetizar exige conhecimentos específicos sim sobre o processo que não é nada simples, mas também sensibilidade sobre os avanços e as dificuldades da criança para saber como aplicá-los.


  • Só existe um método eficiente de alfabetização!!! Mentira! Muitos são os métodos para que a alfabetização aconteça de forma eficiente. No entanto, o profissional precisa se apropriar do método escolhido! Não há evidências de que haja uma única maneira para ensinar leitura e escrita. Mais importante do que pensar em uma sequência de atividades fixa para seguir é dominar as fundamentações teóricas e saber traduzi-las em uma prática adequada à realidade da sua turma. Cada abordagem de alfabetização tem seu pedacinho de verdade, mas nenhuma delas contém a verdade absoluta. Toda a verdade está no processo e no professor que alfabetiza, entendendo com clareza o processo e sabendo orientá-lo.


  • Todas as crianças são diferentes! VERDADE! Cada ser é único e carrega sua especificidade... O desenvolvimento de cada criança é único e é exatamente por isso que o professor precisa de sensibilidade no olhar e boa formação para entender o que acontece com o aluno. As crianças passam fases bem definidas de aprendizagem, mas isso não significa que todas percorram todas as fases de maneira uniforme. O processo é dinâmico, ocorrem saltos e as crianças estão sempre em transição entre fases. Não dá para esperar que uma mesma atividade faça com que todos os alunos saiam de uma hipótese de escrita e cheguem a outra. Por isso, é necessário fazer diagnósticos e re-planejar constantemente.


  • As crianças aprendem a ler e a escrever com mediação de qualidade! Isso é verdadeiro e resume bem a importância de um professor alfabetizador preparado. Apenas dar oportunidade para que a criança, por ela mesma, descubra o sistema de escrita não é suficiente para que ela o compreenda e aprenda como utilizá-lo. As pessoas não se dão conta de como é difícil para uma criança aprender um sistema de representação tão abstrato e complexo como o alfabético. Elas constroem o conhecimento sobre a língua escrita à medida que convivem com ela - em livros, mas também em outros conteúdos, como listas de nomes da sala, placas e sinais na escola e na cidade, e assim por diante - e são orientadas nesse processo.


  • As crianças só devem escrever depois que dominarem o sistema alfabético. Isso é mentira! O ideal é que as crianças explorem a escrita livremente e, com base nisso, o professor diagnostique a hipótese de escrita e planeje seu trabalho. Elas também podem refletir sobre os contextos em que a escrita é utilizada mesmo antes de estarem plenamente alfabetizadas. "Os textos trabalhados em sala não podem ser produzidos artificialmente - aquela coisa antiga do 'Eva viu a uva' - só para aprender a ler.


  • Deve-se corrigir os alunos sempre que eles escreverem errado! Isso é um mito! Devemos considerar a idade e as habilidades de uma criança para pensar em correção! É preciso fazer intervenções de acordo com as hipóteses de apropriação do sistema de escrita de cada aluno e incentivar a reflexão de cada estudante sobre suas próprias respostas, mas sempre respeitando o processo de desenvolvimento da criança e considerando todo seu percurso. É preciso ajudar a ver quais hipóteses que ela faz não funcionam, como ela avança e como as reestrutura. Os erros precisam ser corrigidos de acordo com a apropriação do objeto de conhecimento - o que significa que eles nem sempre serão corrigidos no momento em que ocorrem.


  • Relacionar letras e desenhos NÃO ajuda a memorizar o alfabeto! Verdade... e essas relações não tem nada de consciência fonológica! Muitos livros com alfabeto ou mesmo alfabetos de parede em sala trazem letras que fazem referências a objetos e animais. O "S" é transformado numa serpente, o "B" vira uma borboleta e o "O" um ovo. "As crianças devem perceber que escrever e desenhar são coisas diferentes. O salto desse desenvolvimento é elas descobrirem que se escreve os sons da palavra e não aquilo que ela representa. Forçar uma relação entre as formas dos desenhos e as letras atrapalha a descoberta. Os alfabetos podem até conter referências de animais e outras palavras - como os nomes dos alunos - desde que sejam escritos com a letra que ilustram.


O mais importante de tudo é que o professor que trabalha com pequenos em fase de alfabetização seja apaixonado pelo seu trabalho para que seu entusiasmo leve a criança a aprender. Também é preciso que ele tenha conhecimento sobre o processo, mas isso é óbvio. Vivemos em um mundo altamente globalizado e cheio de descobertas diárias em várias do conhecimento que podem melhorar nossa prática docente. Os alfabetizadores precisam se apropriar da psicologia cognitiva, da fonologia, da sociolinguística, da neurociência que estão estudando esta temática.


O bom alfabetizador entende os processos de aprendizagem e, portanto, sabe orientar de forma adequada. Ao mesmo tempo gosta de fazer esse trabalho e possui uma boa interação com as crianças.

Espero que você tenha gostado deste post...


Um abraço,

Prof. Maria Carolina Lolli




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Os NEURÔNIOS são células que desempenham as funções relacionadas ao sistema nervoso. No cérebro, existem milhões de neurônios. Estudos indicam que nascemos com cerca de 80 milhões. No entanto, conforme crescemos, esse número diminui. Você acredita que aos 80 anos, teremos perdido 30% de nossos neurônios? É verdade! Ao longo da vida, perdemos e regeneramos neurônios constantemente. Neurogênese é o processo de formação, migração e diferenciação de novos neurônios. Este é um conceito que vem sendo debatido há muito tempo, pois cientistas acreditavam ser impossível a neurogênese em adultos. Mas, estudos científicos mostram que neurônios são formados todos os dias em locais específicos do nosso cérebro, ao longo de toda a vida do indivíduo. É importante saber que alguns hábitos podem causar a deterioração neuronal e, portanto, a deterioração cognitiva: beber, fumar, não comer nem dormir bem, ou se manter muito estressado, fazem com que os neurônios se deteriorem mais rapidamente. Você já ouviu a expressão: "deveríamos usar a mente para não atrofiá-la"? Por que devemos manter a mente ativa? As células cerebrais ativas recebem mais quantidade de sangue . As zonas mais ativas do cérebro usam mais energia e, portanto, precisam de mais oxigênio e glicose. Então, estas áreas recebem mais sangue com o propósito de satisfazer a necessidade de neurônios ativos. A medida que você ativa seu cérebro, o sangue flui para as células cerebrais funcionais. Imagens de ressonâncias magnéticas nos auxiliam a entender como o sangue flui no cérebro: Elas mostraram que as células cerebrais dependem muito de oxigênio. Quanto mais usamos o cérebro e o ativamos, mais suprimento de sangue ele recebe. Por outro lado, uma célula cerebral inativa recebe cada vez menos sangue e acaba morrendo. O cérebro precisa de oxigênio, como você já sabe! Sozinho, esse órgão consome 20% da oxigenação fornecida ao corpo todo. O fluxo sanguíneo também é alto no cérebro, podendo chegar a 15% do total. Então, o exercício ajuda a manter as necessidades do cérebro em dia e pode até aumentar o envio de nutrientes para as células desse órgão tão importante. As células cerebrais ativas têm mais conexões com outras células cerebrais. Cada célula cerebral está conectada com outros neurônios e são capazes de propagar rápidos impulsos elétricos. As células cerebrais ativas tendem a produzir dendritos, que são como braços pequenos que se estendem para conectar-se com outras células. Uma única célula pode ter até 30.000 conexões. Como resultado, se converte em parte de uma rede neuronal altamente ativa. Quanto maior seja a rede neuronal da célula, mais possibilidades terá de se ativar e sobreviver. As células cerebrais ativas produzem mais substâncias de "manutenção". O Fator de Crescimento Neuronal (FCN) é uma proteína produzida em nosso organismo. Esta proteína se liga aos neurônios, para torná-los ativos, diferenciados, e reativos. Quantas mais vezes você desafiar e exercitar seu cérebro, mais FCN é produzido. As células cerebrais ativas estimulam a migração das células benéficas do tronco cerebral. Estudos recentes demonstraram que as novas células cerebrais são geradas em uma zona específica do cérebro, chamada hipocampo. Essas células cerebrais podem migrar para as áreas cerebrais nas quais são necessárias. Por exemplo, as células migrariam para uma área determinada depois de uma lesão cerebral. Essas células migratórias são capazes de imitar as ações das células circundantes, permitindo a restauração parcial da área prejudicada. O cérebro é um órgão complexo, não é mesmo? Ele coordena nossas funções motoras, processa emoções, determina comportamentos e reúne a percepção que temos do mundo para formar nossas memórias. Por estar ligado ao corpo todo, a saúde e longevidade desse órgão dependem do nosso estilo de vida. Manter a mente ativa, então, está intimamente relacionado ao estilo de vida que escolhemos ter.
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